EDITORIAL - 34ª Mostra

SONHOS POSSÍVEIS, CONTÍNUOS E ABRANGENTES

Oferecemos o luxo inédito de ter duas artes para marcar a 34ª Mostra Internacional de Cinema. Uma pelo centenário do mestre Akira Kurosawa e outra dedicada ao gênio de Wim Wenders, fotógrafo. Chegamos à 34ª Mostra celebrando o centenário do mestre Manoel de Oliveira com o seu novo filme O Estranho Caso de Angélica, realizado em coprodução com o Brasil. Também de Portugal, igualmente genial, Mistérios de Lisboa, dirigido por Raúl Ruiz e produzido pelo sempre surpreendente Paulo Branco.

Manoel de Oliveira concluiu um projeto Angélica apenas em 2010, embora o tenha escrito em 1946, logo depois da Segunda Guerra Mundial. Ele tinha o pensamento nas consequências nefastas do nazismo. Uma delas, o salazarismo, se interpôs para impedir que o projeto Angélica fosse adiante.

Toda censura aposta no envelhecimento e enfraquecimento de ideias vigorosas. E o cinema é a sua maior vítima ao longo da história. Aqui o efeito é o inverso. Oliveira se fortalece com o tempo e louva um passado que não se dobra aos signos da modernidade. E ao se dispor a aderir à modernidade do cinema com efeitos especiais, recorre a Méliès, um dos pioneiros do cinema que em 1896 inventava ilusões do cinema. Hollywood deveria reconhecer com um Oscar póstumo o inventor dos efeitos especiais, Méliès, e não Avatar, diz ele no documentário sobre o seu pensamento, Absoluto, que será revelado também na 34ª Mostra. Oliveira continua sendo moderno respeitando a memória e as influências do seu vasto tempo de resistência.

E Raúl Ruiz recorre com invejável fôlego ao romance de Camilo Castelo Branco para oferecer aos telespectadores as revelações humanistas de um livro escrito em 1854.

Festejamos o centenário do mestre Akira Kurosawa como ninguém mais no mundo —uma exposição com desenhos originais concebidos como parte de seus próprios filmes em gestação e o lançamento de um livro.

Ambos passam por Teruyo Nogami, uma senhora que mergulhou com coragem e determinação ainda adolescente no cinema japonês e acabou se tornando a principal assistente e colaboradora de Kurosawa ao longo de meio século. Este processo criativo materializa-se na 34ª Mostra com duas vibrantes parcerias. Com o Instituto Tomie Ohtake, apresentamos a exposição dos sonhos de Kurosawa antes de virarem filmes —80 storyboards originais do mestre genial de Rashomon, obra-prima que também vamos exibir em cópia restaurada. E com a Cosac Naify, lançamos o precioso livro de memórias cinematográficas de Teruyo Nogami, À Espera do Tempo - Filmando com Kurosawa.

Mais uma vibrante parceria da Mostra se renova anualmente com a editora Imprensa Oficial. Com seu inventivo apoio prosseguimos com o estimulante ciclo de depoimentos Os Filmes da Minha Vida, onde a paixão pelo cinema de depoentes convidados vira livro. Lançaremos o livro 2 da série e os depoentes deste ano serão editados em livro do próximo ano. Com a Imprensa Oficial celebramos ainda o sempre inspirado talento de Wim Wenders, com a edição de um livro de suas fotografias. Elas, em impressionantes ampliações, terão exposição inédita no mundo, com o apoio do Museu de Arte de São Paulo.

Hanna Schygulla é outro ícone do cinema alemão que honraremos na 34ª Mostra. O seu talento e sua energia serão vistos em várias frentes de atuação e direção. As apresentações dedicadas a F.J. Ossang e Serge Avedikian reforçam a atenção da Mostra em autores ousados e marcantes.

Na 34ª Mostra é a vez de outro país nórdico mostrar sua força no cinema. A Mostra Noruega reúne os títulos mais expressivos produzidos no país na última década, com uma homenagem especial a Bent Hamer, mais conhecido no Brasil pelo singelo Histórias de Cozinha (2003).

Entre as atrações especiais, destaca-se a produção de um megaevento com a exibição ao ar livre no Auditório Ibirapuera e a colaboração do Parque Ibirapuera, do maior clássico alemão de todos os tempos: o grandioso Metrópolis (1927), obra-prima de Fritz Lang, em cópia restaurada e acompanhamento ao vivo da Orquestra Jazz Sinfônica, com regência do maestro João Maurício Galindo.

E, claro, seguimos atentos na revelação de novos realizadores e na pluralidade de tantos outros mestres que nos guiam com seus trabalhos e fazem brilhar esta seleção. Queremos que a euforia dos dias de Mostra se espalhe em ondas que contagiem com entusiasmo a todos os cinéfilos. Este é, afinal, o propósito mais sincero desde o mestre Oliveira ao mais jovem talento presente em nossa seleção. Por isso provocamos encontros dos realizadores com estudantes da FAAP. Por isso inauguramos em 2009, em parceria com The Auteurs/Mube, o primeiro festival online do mundo. Por isso as parcerias com a TV Cultura para promover filmes chancelados com a marca da Mostra. E por isso tudo seguimos vibrando e difundindo os melhores pensamentos através do cinema.

Nossos agradecimentos a todos os parceiros que contribuem na realização desta 34ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Sem eles nada do que sonhamos seria possível, contínuo e tão abrangente.

Renata de Almeida e Leon Cakoff
Diretores

43ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA

43ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA