HOMENAGENS - 39ª Mostra

José Mojica Marins | Patricio Guzmán | Ermanno Olmi

PATRICIO GUZMÁN

Prêmio Humanidade

Um dos grandes nomes do cinema latino-americano, o chileno Patricio Guzmán se destaca não apenas pelo profundo conhecimento do gênero documental, mas, sobretudo, por uma impressionante sensibilidade ao falar de política —principalmente no que diz respeito à ditadura que assolou seu país entre 1973 e 1990.

Nascido em Santiago em 1941, Guzmán estuda filosofia por três anos e, na década de 1960, começa a fazer filmes em super-8, como Viva la Libertad (1965) e Electro Show (1966). Com dificuldades para continuar seus estudos, muda-se para Madri e começa a trabalhar em uma agência de publicidade. Posteriormente, ingressa na Escuela Oficial de Cinematografía, especializando-se em cinema documental.

Guzmán se dá conta de que, fora de seu país, não há como realizar com plenitude o cinema que deseja. Retorna ao Chile em 1971, um ano após a vitória de Salvador Allende (1908-1973) nas eleições presidenciais. Faz sua estreia na direção de longas-metragens com Primer Año (1973), sobre os primeiros 12 meses do então presidente, e roda A Batalha do Chile (1975-79; 3ª Mostra), documentário de cinco horas sobre o governo de Allende e sua queda, em 1973, quando foi deposto por um golpe de Estado liderado por Augusto Pinochet (1915-2006). Guzmán é preso por duas semanas e ameaçado de fuzilamento, mas consegue sair de solo chileno com o material de filmagem e se exila em Cuba. Lá, anos mais tarde, termina de montar o documentário.

Após sua temporada em Cuba, volta a morar na Espanha e depois vai à França, onde vive até hoje. Na Europa, continua a fazer filmes sobre a ditadura chilena, a exemplo de En Nombre de Dios (1986), Chile, la Memória Obstinada (1997) e O Caso Pinochet (2001).

Interessado em astronomia, Guzmán experimenta uma nova forma de abordar a história de seu país, unindo filosofia e estética, como ocorre em Nostalgia da Luz (2010, 34ª Mostra). O título traça um paralelo entre grupos de astrônomos que vão ao deserto do Atacama observar o céu e o solo da mesma região que esconde cadáveres de prisioneiros políticos. Algo semelhante é feito em O Botão de Pérola (2015), laureado em duas categorias —prêmio do Júri Ecumênico e Urso de Prata de melhor roteiro— no Festival de Berlim, e que integra a programação da 39ª Mostra.

Fora das telas, Guzmán também estende sua luta pela preservação da história com o Festival Internacional de Documentales de Santiago de Chile (FIDOCS), que criou em 1997.

É com grande prazer que a Mostra lhe concede este ano o Prêmio Humanidade, já entregue a mestres do cinema humanista como Abbas Kiarostami, Raúl Ruiz, Amos Gitai, Manoel de Oliveira e Eduardo Coutinho.

43ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA

43ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA