“Um contador de histórias não pode ficar restrito a um tipo de linguagem”, afirma Sérgio Machado
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Discussões sobre as múltiplas linguagens no audiovisual brasileiro definiram o tom da quarta mesa do III Fórum Mostra, “Histórias dentro e fora da caixa”

“Um projeto nunca nasce pensado em uma tela só”, defendeu o diretor da animação “Osmar, a Primeira Fatia do Pão de Forma” Ale McHaddo ao comentar sobre a união de diversas plataformas digitais em uma produção cinematográfica. Ele participou do segundo dia de debates do III Fórum Mostra na mesa “Histórias dentro e fora da caixa” junto ao produtor e diretor Ricardo Laganaro, ao roteirista e diretor Sérgio Machado e ao diretor de marketing digital da Globoplay Tiago Lessa.

Laganaro destacou as ferramentas que a realidade virtual pode proporcionar para o público: “A realidade virtual tem a possibilidade única de reproduzir conteúdo intelectual usando o corpo inteiro. ” O diretor premiado com a melhor experiência em VR no Festival de Veneza com o filme A Linha faz um apelo a experiência audiovisual em múltiplas mídias: “Nós não temos um corpo, nós somos um corpo. ”

Machado afirma ter se surpreendido ao adaptar a série Irmãos Freitas, que originalmente seria um longa-metragem. A série retrata a rivalidade entre os irmãos pugilistas Popó e Luís Cláudio Freitas e tinha mais de seis horas de material, o que levou o diretor a se mostrar cético na perspectiva de cortar o conteúdo da série. “Eu me sinto um contador de histórias e não posso ficar restrito a um tipo de linguagem, era impossível cortar mais conteúdo e por isso adequamos para virar uma série e contar essa história do jeito certo”, explicou Machado.

Lessa era o único da mesa que não produz ou dirige conteúdo. O diretor de marketing digital da Globoplay tem por missão montar uma programação que seja interessante para todos os públicos. “Tentamos fazer uma curadoria e chegar a um equilíbrio com dados do público, o nosso limite é tentar chegar numa programação boa para todo mundo”, contou.

Diretor de Osmar, A Primeira Fatia do Pão de Forma, McHaddo mostrou para a plateia as mais diversas produções de mídia envolvendo o personagem do filme, de videogames até aplicativos de celular. “A pessoa deve poder escolher em que plataforma irá consumir o conteúdo e ter uma grande experiência sensorial em todas elas”, defendeu.

Laganaro concordou com o colega e adicionou que é necessário balancear as produções no intuito de achar um norte entre o tédio e a ansiedade para que o espetáculo não se perca, enquanto Lessa destacou que os podcasts também fazem parte da experiência narrativa e não podem ser ignorados nesta nova fase de convergência de mídias. Para ele, “a Disney fez um podcast do Wolverine, as vivências sensoriais não estão apenas no arco visual”.

McHaddo também abordou as diferenças entre o arco narrativo e a “jogabilidade” dos games que são produzidos na indústria nacional e internacional: “Às vezes o público quer separar a narrativa do game, não é todo mundo que compra o jogo pela interatividade que ele tem com outras plataformas. ”

Já Laganaro discordou desta afirmação ao considerar que a vivência interativa é indissociável: “A experiência interativa chegou em um momento em que não conseguimos separar mais nada, um game já não é mais só um game. ”

Finalmente, Machado comentou a situação atual do audiovisual brasileiro e se mostrou pessimista: “Tenho a sensação de que estamos vivendo uma louca distopia, as oportunidades são muito desiguais e por isso é um momento difícil para quem está começando. ” Mais otimista, McHaddo prevê uma expansão para o mercado brasileiro pois “as dificuldades que se apresentam nunca serão maiores do que a nossa capacidade de vencer e os profissionais brasileiros estão entre os melhores do mundo”.

Lessa finaliza endossando o discurso positivo de McHaddo: “ O nosso Brasil está cheio de histórias para se contar e o público quer escutar essas histórias. ”

Daniel Gateno

43ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA

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