Debate no IMS revela as possibilidades narrativas na Cracolândia
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Filmes ambientados na Cracolândia parecem ter o crack como único viés possível de abordagem.Diz a Ela que Me Viu Chorar em cartaz na 43ª Mostra, prova que há outras histórias para contar ali, e foram elas quem embalaram um concorrido debate ocorrido após a exibição do filme, na noite da última terça-feira (22), no Instituto Moreira Salles.

Dirigido por Maíra Bühler, o documentário apresenta o cotidiano de um hotel social situado dentro da região central de São Paulo. Em vez de focar na dependência dos moradores dali, a cineasta apresenta os dramas humanos deles, contando histórias que, no fundo, são repletas de afetos.

“Eu sentia um incômodo por essas pessoas serem tratadas como são porque, afinal, elas são pessoas. Queria entender a vida delas para tentar construir uma contranarrativa”, afirma Maíra, que também é antropóloga.

O debate contou com a presença do psiquiatra Leon Garcia, do Hospital da Clínicas, e Denis Recco, gerente do hotel onde se passa o documentário.

“Este é um filme sobre pessoas que viveram muitas perdas e incertezas. O que me comoveu nele foi poder pensar nisso”, disse o médico, segundo o qual é fundamental quebrar a hipocrisia para se falar de drogas.

Segundo Denis, o maior desafio da experiência nos hotéis sociais era conferir a eles um aspecto de lar. “Tínhamos que transformar esse lugar em um espaço mais democrático que a rua, porque ali a gente tinha a possibilidade de mediar conflitos”, afirmou.

Maíra explicou os cuidados que tomou para as gravações, especialmente ao lidar com pessoas em estado de vulnerabilidade. A relação com os personagens foi construída ao longo de cinco meses de um convívio “duro é difícil, mas de muito aprendizado”, como define a diretora, e todos eles consentiram quanto ao uso de suas imagens, mesmo quando elas parecem controversas para quem está fora daquele universo.

“As pessoas iam se construindo como personagem à medida que viam as cenas. O filme trouxe um olhar muito afetivo delas para si mesmas”, afirmou a diretora, que acumulou 136 horas de filmagens. “Vamos fazer pequenas edições para entregar às pessoas porque esse é um material delas também”, concluiu.

Amanda Queirós

43ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA

43ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA